Você sabe qual é o ancestral dos cães domesticados?



No transcorrer dos anos, pesquisas concordam que o lobo exerceu um papel importante na reserva genética dos cães. Vale enfatizar que há 32 subespécies de
 Canis lupus (lobo).

 

Vamos supor que o Canis lupus gerou o Canis familiaris. Qual das muitas subespécies do lobo começou esse processo? Estudos em biologia molecular postulam que o Canis lupus familiaris surgiu do lobo cinzento, no continente asiático, há mais de 100 mil anos. Entretanto, as mesmas pesquisas abrem janelas para novos questionamentos. Alguns dados genéticos partilhados entre cães e lobos geram conclusões precipitadas. Entre elas, evidencia-se a igualdade no número de cromossomos (78), porém o coiote e o chacal possuem essa mesma quantidade, o que significa que esses canídeos podem produzir descendentes férteis.

 

Testes de DNA fornecem informações de que os cães domésticos, o lobo, o coiote e o chacal são os mais semelhantes entre os canídeos. A distância isoenzimática indica que o cão é mais aproximadamente aparentado com os lobos do que com outros canídeos. Cães e lobos compartilham 71 de 90 padrões de comportamento, mais do que qualquer outra espécie possa compartilhar. Em contraponto, a diversidade morfológica mostra que cães têm o tamanho do cérebro e do crânio menores, focinhos mais curtos, apresentam pelos de coloração diferente, encurvamento da cauda, são menos alertas em seu ambiente, além de terem desenvolvido a capacidade de digerir carboidratos.

 

Pesquisas posteriores também têm levantado hipóteses mais variadas. Segundo Adreoli (1992, apud CRUZ, 2007 p. 9), em meados do século XIX, Saint-Hilaire afirmou que a maioria dos cães descendia do chacal, e alguns outros dos lobos.

Já Scott (1976, apud CRUZ, 2007 p. 9) acreditava que o cão teria sido domesticado a partir de uma espécie de lobo de porte reduzido quando comparado com o padrão da espécie, o que faz a presente teoria cair em descrédito. Em seguida, com base em indícios anatômicos, Scott afirma que o cão é uma variedade domesticada do lobo. Ele afirma também que estudos pormenorizados de estrutura óssea, como o crânio e a arcada dentária, não corroboram a tese de que outras espécies, como o chacal e o coiote, tenham contribuído na formação na espécie do cão doméstico.

Clutton-Brock (1995) defende que algumas raças caninas seriam descendentes do lobo, enquanto outras seriam derivadas do chacal. Mais tarde, ao perceber as diferenças do repertório vocal entre chacais e cães ou lobos, abdicou dessa opinião. Também Helmer (1992) exclui o chacal da ascendência do cão com base na sua morfologia dentária.

 

Pesquisas mais recentes surpreendem as antigas especulações. A revista Science, em sua edição de 15 de novembro de 2013, publicou um estudo afirmando que os cães e lobos têm um ancestral em comum. Ele teria habitado na Europa e surgido há aproximadamente cerca de 20 mil anos.

 

A Revista Science afirma alguns aspectos que são primordiais para a conclusão desse conceito, incluindo a extensa variação fenotípica de raças, que dificulta uma simples inferência na origem dos cães. Neste estudo foram analisados os genomas mitocondriais de 18 canídeos pré-históricos da Eurasia e do Novo Mundo (Continente Americano), juntamente com um painel abrangente de cães modernos, coiotes e lobos. Foram analisados o DNA de 77 cães de raças variadas, como o Basenji o Dingo, 3 cães indígenas e chieses, 49 lobos e 4 coiotes, resultando no total de 148 genomas mitocondriais. Os pesquisadores, após fazerem uma leitura dos genomas mitocondriais desses animais, elaboraram uma árvore genealógica com 4 grupos de cães atuais em posições muito próximas a suas origens, analisando as relações filogenéticas dos canídeos.
 
O tempo calculado para o antepassado comum mais recente dessa arvore genealógica é de 18,8 mil anos. A classe que compreende esses antigos cães em achados arqueológicos no Novo Mundo, na era pré-colombiana, compartilha da ascendência de cães modernos e está intimamente relacionado com uma sequência de lobo antiga da caverna Kesslerloch na Suiça, com o MRCA (termo que se refere ao antepassado mais recente) datado em 32,1 mil anos.


Os dados das classes dos animais relacionados na árvore genealógica sugerem uma origem de cães na Europa, em vez do Oriente Médio ou Leste Asiático, como indicam pesquisas anteriores, o que comprova filogeneticamente a equivalência entre genomas mitocondriais dos cães modernos com canídeos da Europa.


As análises implicam uma origem europeia do cão domesticado, datando de 18,8 mil a 32,1 mil anos o MRCA de sequência de lobos antigos e cães agrupados de diversos ramos da arvore genealógica. Consequentemente, os resultados das pesquisas sustentam a hipótese de que a domesticação de cães precedeu o surgimento da agricultura e ocorreu no contexto das culturas europeias de caçadores/coletores, contudo, ainda existem controversas quando o assunto é domesticação do canis lupus famailiares.


A conclusão das pesquisas elaboradas na arvore de sequência de DNA indica um único lócus genético, obtendo um ancestral em comum entre cães e lobos. ‘’Quase nenhum dos lobos atuais, por outro lado, tem parentesco próximo com os cães de hoje, o que os outros estudos já mostravam. Tudo indica que a população de lobos ancestral dos atuais cães acabou se extinguido’’, conclui Wayne, cientista líder do estudo publicado na Revista Science.

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Referências
Thalmann, O et alComplete mitochondrial genomes of ancient canids suggest a european origin of domestic dogs.  Science, 15 de novembro de 2013: Vol.342 – Edição 6160;  Pg 841 -874

 

Bonnie V. Beaver, teacher chief of medicine Department of small animal medicine and surgery college of Veterinary medicine Texas A&M University college Canine Station - Behavior: A Guide for Veterinarians

 

Oslen SJ: Originis of the domestic dog: The Fossil Record. Tucson, AZ: University of Arizona Press 1985

 

Scott JP: The Evolution of social behavior in dogs and wolves. Am Zool 1967

 

Vilá C, Savolainen P, Maldonado JE: Multriple and ancient origins of domestics dog SCI 1997

 



Por: Pablo Silveira
Edição: Patrícia Larsen

 




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